La Casa de las Flores (A Casa das Flores): uma sátira da novela mexicana
De Peter Doré
Os mexicanos, assim como os brasileiros, são conhecidos por estar entre os melhores para fazer novelas de sucesso, as novelas sem fim que mantiveram a América Latina em suspense nas últimas quatro décadas. O que é menos conhecido é o talento deles para o humor contundente.
A nova série mexicana no Netflix, La Casa de las Flores, é uma paródia e uma sátira da sociedade latino-americana; neste caso, a mexicana. Todos os tabus e maldições que afetam o país são abordados de maneira cômica e mordaz. Para começar, ousa ir contra a superstição popular, incluindo apenas 13 capítulos! Cada capítulo de 30 minutos tem o nome de uma flor que representa um valor ou emoção, por exemplo, crisântemo que simboliza a dor, gratidão das dálias, esperança das tulipas ou luxúria das orquídeas.
Através desta série, seguimos as desventuras de uma família rica que vive numa colônia chique (bairro) da capital federal, a Cidade do México. A família de la Mora anseia por perfeição e conservadorismo, mas passo a passo vemos sua estrutura familiar desmoronando devido a fraude, corrupção, extorsão, esnobismo, elitismo, prisão, rumores, casos extraconjugais, chantagem, homossexualidade, bissexualidade, identidade de gênero, sexismo, racismo, drogas, tráfico, suicídio, crianças ilegítimas e assim por diante.
O que pode chocar o espectador nesta série é a falta de moralidade e correção política nos infortúnios familiares, uma mudança bastante refrescante para os europeus, que podem ser um pouco prisioneiros da retidão mental. É verdade que nós ocidentais rapidamente nos sentimos desconfortáveis quando somos confrontados com o preconceito racista experimentado por um protagonista afro-americano. Os judeus também não são poupados, sendo retratados como ricos e ligeiramente exclusivos. Mas ter preconceitos é, na verdade, uma realidade nua e crua da sociedade mexicana, como em muitas outras. Qual seria o ponto de esconder a verdade? Com certeza, esta abordagem tem o efeito desejado. Ficamos chocados apesar da abordagem burlesca e, para completar, a ausência de um final feliz frustra nosso desejo de uma boa ética.
La Casa de las Flores é um verdadeiro prazer visual e culposo. As atuações dos principais personagens são notáveis, especialmente as da Verónica Castro (mãe da família Mora) e Cecilia Suárez (a filha mais velha, Virginia de la Mora). Destacam-se também as atuações do Darío Yazbek Bernal, que interpreta o filho bisexual e Juan Pablo Medina, o amante gay playboy e, finalmente, Verónica Langer, que interpreta a vizinha fanática hipócrita.
Se puder, tente ver essa série em sua versão original com a voz e entonação única e inimitável da Verónica Castro. Até mesmo os créditos de abertura são impressionantes, mostrando o retrato dos protagonistas em estilo Frida Khalo, acompanhados pela música tradicional mexicana. Finalmente, se você estuda espanhol, a série será perfeita para mergulhar na cultura mexicana.
Form-idea Londres, 22 de outubro de 2018. Artigo traduzido do inglês por Roosevelt de Paula.
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